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ilustração papisa joana

Papisa Joana: Existiu mesmo uma mulher Papa na igreja católica?

Um dos assuntos mais controversos sobre a história dos papas e do Vaticano, é a presunta existência de um papa, que na verdade era uma mulher, a papisa Joana.

A lenda nasceu na idade média, e reza que em 855, após a morte do papa Leão IV, uma mulher viajou até Roma, vestindo-se de homem e fingindo ser um frei.

Joana, teria sido eleita papa com o nome de João Angélico, e a sua farsa teria sido descoberta em 858, porque durante uma procissão de páscoa, ela teria dado à luz a um filho, nascido de uma relação clandestina com um monge.

Como um castigo divino, a papisa Joana e o filho ilegítimo teriam morrido no meio da rua, durante o trabalho de parto.

Apesar de não existir alguma prova cabal da existência da papisa Joana, a verdade é que em Roma existe um pequeno monumento votivo, construído no local onde ela teria dado à luz e, em seguida, falecido.

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Quem era a Papisa Joana?

Por volta da metade do século IX, uma jovem adolescente, de família nobre, decidiu abandonar a sua pátria para viver um amor proibido.

Apesar de ter crescido em Mainz (Alemanha), sua família era de origem britânica. Ainda em Mainz a jovem se apaixonou por um monge beneditino e, assim como Abelardo e Heloísa, eles viveram um romance clandestino.

Quando o monge decidiu ir estudar em Atenas, a sua única alternativa foi fingir também ser um padre e fugir junto com seu amante.

Vestida de homem, ela teve a oportunidade de se dedicar aos estudos (o que na época era praticamente impossível para uma mulher) de três matérias importantes: dialética, gramática e retórica.

A jovem Joana era uma das melhores alunas, e logo se destacou brilhantemente pela sua erudição, sabedoria e oratória.

O monge com o qual Joana tinha um relacionamento clandestino veio para Roma, e ela novamente o seguiu. Ela entrou para uma ordem religiosa, fez parte do clero, e graças ao seu saber, conseguiu subir cada vez mais na hierarquia eclesiástica.

Morte de Leão IV e eleição da Papisa Joana

Em 855, após a morte do Papa Leão IV, foi realizado o conclave e Joana (que todos pensavam ser um homem e se chamar João), foi eleita papa, com o nome de João Angélico.

Joana, porém, não era uma papisa casta, pois continuava seu romance clandestino

Após dois anos de papado, aconteceu um evento que deixou todos extremamente chocados: durante uma procissão do Vaticano para a Basílica de São João de Latrão, a papisa começou a passar mal justamente quando o cortejo estava passando na frente do Coliseu.

Na época a residência oficial dos papas não era no Vaticano, mas sim nos palácios adjacentes à Basílica de São João de Latrão, por ela ser a catedral de Roma. Portanto, todas as vezes que o papa percorria o itinerário Vaticano-Laterano, um séquito de fieis esperava pela sua passagem.

Quando começou a entrar em trabalho de parto, Joana pediu para que o cortejo fosse desviado em direção à Basílica de São Clemente, talvez para tentar esconder o que estava para acontecer.

Para surpresa geral de todos, a poucos metros de Basílica de São Clemente, aquele que todos acreditavam ser Papa João Angélico entrou em trabalho de parto e deu à luz a uma criança.

Foi um enorme escândalo. Segundo historiadores, na frente do local onde mãe e filho morrerram deu lugar a uma pequena edícola, dedicada a Maria e ao Menino Jesus.

Aqui nessa esquina e na frente dessa pequena edícula é onde teriam morrido a papisa e o bebê. Imagem: Google Maps.

Esse monumento existe até os dias de hoje, e fica bem na esquina da Via dei Cerqueti con a Via dei Santi Quattro.

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Martinho de Opava: o inventor da história da Papisa Joana

Alguns escritores medievais contaram a história da papisa Joana. Mas o autor da história foi Martinho de Opava, um cronista do século XIII.

Martinho era um religioso. Nascido em Opava (atual cidade alemã de Troppau), fez parte da Ordem dos Pregadores, e veio para Roma por volta de 1250, onde foi nomeado capelão papal por Clemente IV, tendo também continuado a cumprir essa função com outros papas.

Escreveu um livro chamado Crônica dos Pontífices e dos imperadores, e resolveu incluir no seu livro uma lenda popular alemã que contava a história uma mulher alemã, mas de origem inglesa, de família nobre e que tinha sido eleita papa.

O fato de Martinho ter tido acesso a documentos secretos do Vaticano, faz com que isso corrobore à tese que efetivamente ele escreveu algo verdadeiro. Sua afirmação diz que:

João Angélico, nascido em Mainz, foi papa durante dois anos, sete meses, e quatro dias, e morreu em Roma, pelo que depois ficou vago o cargo de papa durante um mês. Reivindica-se que este João foi mulher.

Uma imagem de Martinho de Opava

A papisa Joana na versão do monge Estevão de Bourbon

Segundo a versão narrada pelo monge Estevão de Bourbon, no seu livro Os sete dons do espírito santo, o fato teria ocorrido em 1100, e não na metade do século nove.

Bourbon diz que a papisa Joana teria morrido de parto, e só depois da autópsia é que a história teria sido descoberta.

Em outra versão, Joana e o filho sobreviveram ao parto, e ela foi expulsa da igreja. A lenda narra que quando adulto, o filho de Joana foi eleito bispo de Ostia, e que ambos teriam sido sepultados onde hoje existe a Basílica de Santa Aurea, no burgo adjacente à Ostia Antiga.

Se não bastassem os religiosos, até mesmo Giovanni Boccaccio, autor do Decameron, também cita a existência da Papisa Joana.

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A Papisa Joana e o uso da cadeira da virilidade

Para fomentar ainda mais a lenda, conta-se que a partir desse fato, todos os novos papas eleitos tinham que se sentar em uma cadeira de pórfiro, com um buraco no meio, de onde outros diáconos podiam apalpar as “partes baixas” do novo pontífice, e assim saber se ele era mesmo um homem.

Quem nos conta essa história de modo detalhado é Felix Harmelin, por volta de 1490:

“Para demonstrar o seu valor, os seus testículos e o seu pênis são tocados pelos diáconos mais jovens, como prova do sexo masculino. Uma vez que tem-se a prova, quem o tocou grita: “virgam et testiculos habet” (Ele tem um pênis e testículos) e os demais eclesiásticos respondem: “Deo gratias” (Deus seja louvado). Assim, então, o papa eleito é consagrado”.

A verdade é que essas cadeiras de pórfiro vermelho (mármore usado pelos imperadores romanos) com um buraco no meio, muito provavelmente eram usadas bem antes da lenda da papisa Joana, como cadeiras para ajudar no parto.

Existem duas dessas cadeiras expostas em museus: uma nos Museus do Vaticano e outra no Louvre.

O filme A Papisa Joana e a história na cultura popular

Muitos acreditam que a carta de tarô da papisa, foi criada inspirada na Papisa Joana.

Além disso vários escritores dedicaram livros de um discreto sucesso contanto a história. Em 1865 o escritor grego Emmanouil Roidis publicou o seu volume.

Em 1954 o escritor inglês, inspirando-se bastante no livro de Roidis, também escreveu a sua história.

Outros dois livros interessantes dedicados ao assunto são: Mille anni di leggenda- una donna sul trono di Pietro, do autor C. D’Onofrio (1978) e La Papessa Giovanna. Storia di una leggenda medievale do autor Alain Boureau (1991).

A publicação mais recente é o romance Pope Joan, da autora estadunidense Donna Woolfook Cross, o qual inspirou o filme a Papisa (2009). Na verdade, nos anos 70, a atriz Liv Ulmann já tinha protagonizado um filme sobre esse assunto.

Cena do filme Papisa Joana

Publicações, artigos e uma lenda que nunca vai morrer

Apesar de o Vaticano sempre ter negado veementemente a existência da papisa Joana, hoje há dois times dedicados ao assunto: estudiosos que negam a existência de um papa mulher e, obviamente aqueles que buscam provas confutáveis de que a Papisa Joana não é uma lenda.

O que temos de fatos verídicos é que após a morte do Papa Leão IV, não se passou quase três anos para quem um outro papa fosse eleito.

Leão IV morreu no dia 17 de julho de 855, e seu sucessor, papa Bento III, foi eleito no dia 29 de julho do mesmo ano, e tomou a posse oficialmente como papa três meses depois, em 29 de julho de 855 até 17 de abril de 858.

Se a história coloca a papisa Joana como sucessora de Leão IV, onde colocaríamos historicamente o papa Bento III? Ou seja, estaríamos acusando o Vaticano de inventar um papa oficial por três anos, para cancelar a história da papisa Joana?

A verdade é que na história da humanidade e, sobretudo em muitas rebeliões que nasceram na idade média, realmente temos histórias de mulheres que para ter poder político, para fugirem de casamentos forçados, para não serem obrigadas a virarem freiras, etc., resolveram assumir uma identidade ou um papel masculino.

Um dos exemplos mais famosos de uma mulher que assumiu um papel masculino (sem de todo modo renunciar à sua identidade) é Joana D’arc, heroína e padroeira da França, a qual vestiu uma armadura e guiou o exército francês na Guerra dos Cem Anos.

E para fomentar ainda mais essa história, em 2018, arqueólogos da Universidade de Flinders, na Áustrália, chegaram à conclusão de que, sim, a papisa Joana realmente existiu!

O estudo de autoria de Michael E. Habicht, se entitula Papisa Joana: O Pontificado Encoberto de uma Mulher ou uma Lenda?,

E você, caro(a) leitor(a). Acredita realmente na existência de uma papisa?

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